segunda-feira, 5 de novembro de 2007

 

Fuga do amor

O Passado, de Babenco, trata de forma singular busca do amor e desespero de sua perda. Gael García Bernal mantém alto da narrativa

Por Hebert Regis

Em algum lugar, a qualquer momento, o passado volta à tona. As conseqüências das escolhas batem à porta de Rimini (Gael García Bernal). As fotos amareladas abandonadas, a cada nova mudança, lembram-no do dia que decidiu se separar de Sofia (Anália Couceyro, na foto ao lado com o ator). Baseado no romance homônimo do argentino Alan Pauls, O Passado – em cartaz no circuito nacional desde 26 de outubro – mostra de forma singular a busca incessante pelo amor e o desespero da sua perda.

No novo filme de Hector Babenco, as emoções extremadas diante do término do relacionamento transbordam diante de nós como uma confusão, que vai da excentricidade dos atos de Sofia à passividade de Rimini. Iniciado com uma grande amizade da juventude, o casal decide terminar o casamento depois de 12 anos, de forma aparentemente amistosa. Ele tenta esquecê-la, não atendendo aos telefonemas ou fingindo não estar em casa. Relaciona-se novamente. Primeiro com a modelo Vera (da bela Moro Anghileri) e depois com a intérprete Carmem, sua colega de profissão, com quem tem um filho.

Apesar das tentativas, a constante presença de Sofia mostra que a relação entre eles está longe de acabar, o que deixa Rimini sensivelmente perturbado. Ela é a responsável pelo fim trágico de ambos os relacionamentos. A narrativa, entrecortada com uma montagem brusca, mostra o ponto de vista do personagem de Gael García Bernal e o desespero e a angústia de uma fuga incessante, muitas vezes irracional. Quando contraditoriamente, fugir somente aproxima cada vez mais Sofia e Rimini.

Ambientado na Buenos Aires, sempre fria, escura ou chuvosa, a história parece ser bem particular. Inicialmente Babenco avaliou a possibilidade de rodar todo o filme em São Paulo, mas no final percebeu a ligação da história com um local e cultura particular. Com uma participação especial, o autor Paulo Autran, falecido em outubro, aos 85 anos, O Passado marca a presença do ator em seu último papel no cinema, ao dar vida ao professor francês Poussiére, que lê uma conferência sobre lingüística traduzida para espanhol por Rimini e Carmem.

Fragilidade - O exagero nas emoções (muito peculiar aos nossos hermanos) pode soar um pouco estranho aos brasileiros, o que não invalida a obra, principalmente ao tratar de forma singular a separação e as loucuras de uma mulher apaixonada aos olhos de um homem.

O diretor Hector Babenco explica que Rimini seria um personagem clássico nas grandes tradições dos heróis masculinos, sendo a descrição de um personagem mais frágil, longe do arquétipo do homem viril. A escolha do mexicano Gael García Bernal, mais do que marketing puro, transformou-se numa linha tênue, para que o filme não resvalasse no dramalhão, e sim em um narrativa sensível, com um personagem psicologicamente bem delineado. Não se pode dizer o mesmo de Anália Couceyro, que em determinado trecho da narrativa, deixa a sua Sofia bastante caricata.

Ao encaixar o filme em uma realidade própria, tem-se diante dos olhos uma apologia ao amor, independente de todas as suas conseqüências. O filme trata, ao mesmo tempo, a confusa briga interna entre fugir ou procurar o amor. O Passado mostra, de forma otimista, que a busca do amor é um mal necessário para se continuar vivendo plenamente. Mesmo que seja para montar aos poucos o álbum de nossas vidas e revisitá-lo mais tarde, em uma forma de preparação para a vinda de outros amores.

Serviço
Filme: O Passado (El Passado) - Argentina/Brasil, 2007. 115min. Drama. 16 anos
Direção: Hector Babenco
Elenco: Gael García Bernal, Ana Celentano, Analía Couceyro
Site:
http://www.opassado.com.br/
Cinemas em Goiânia: Severiano Ribeiro Goiânia Shopping 8 - 15h e 19h10. Lumière Bougainville 1- 14h50, 17h, 19h10 e 21h20. Todos legendados (até quinta, dia 8)


Hebert Regis é jornalista e especialista em Jornalismo Literário

Foto: Ricardo Della Rosa/Reprodução

5 comentários:

Anônimo disse...

Textos muito longos para blog. Não tenho paciência de ler na tela do computador. Se você impresso eu leria…

Paz e bem!

Anônimo disse...

Ainda quero assistir... filme com meu futuro marido...

Anônimo disse...

São textos para quem gosta de ler, Helen. Imprima, se preferir.

Anônimo disse...

Encontrei este blog pelo post sobre "Derecho de Familia". Gostei muito dos textos(ainda estou lendo) e pretendo voltar sempre!

Camila
mesmachuva.blogger.com.br

Anônimo disse...

Fala sério!!! Se eu tivesse dinheiro para imprimir texto por texto preferiria pagar banda larga. Aí sim teria paciência para ler. Em lan-house não dá pra "perder" muito tempo lendo.