quinta-feira, 22 de maio de 2008

 

Uma saga imperdível

Após 19 anos de espera, trajetória de Indiana Jones não traz novidades e dá continuidade ao estilo, mas promete agradar aos fãs

Por Eduardo Sartorato

O quarto filme do herói-arqueólogo Indiana Jones não apresenta nenhuma novidade aos demais episódios da série. É justamente por isto que será mais um sucesso de bilheteria a partir de hoje, quando entra em cartaz em todo o Brasil. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (fotos) cativa os fãs mais antigos, que precisaram esperar quase 20 anos para conferir a continuação da seqüência que marcou a história do cinema.

Quem se espremeu nas cadeiras de uma sala de exibição para assistir ao novo filme nas sessões de pré-estréia, realizadas na quarta-feira, 21, certamente saiu satisfeito, principalmente se já havia gostado dos anteriores. A aventura repete a mesma estrutura cinematográfica que os demais sucessos. O que muda é a história. Desta vez, o professor Henry Jones Júnior (Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford) enfrenta os soviéticos em busca do "Eldorado", a cidade de ouro perdida que, segundo a lenda, estaria localizada na Amazônia.

Novamente o roteiro é construído em cima de ação e de diálogos bem escritos, com um humor contido, porém certeiro. Mesmo assim, Steven Spielberg e George Lucas, que assinam a franquia, não conseguiram se aproximar de Indiana Jones e a Última Cruzada, o ápice da até então trilogia. Contudo, o grande mérito da nova história é conseguir amarrá-la tão bem aos demais filmes, mesmo depois de tanto tempo.

Semelhança - Não tão filosófico quanto a Última Cruzada, mas também fugindo da limitação de Indiana Jones e o Templo da Perdição, o quarto filme se assemelha mais com o primeiro, Os Caçadores da Arca Perdida. Tanto que as únicas menções presentes são justamente em relação ao primogênito da série. A personagem Marion (Karen Allen), atriz principal na jornada em busca pela arca sagrada, volta a ser protagonista e revela surpresas a Indiana. Até a antiga arca tem seus dois segundos de holofote.

Na ânsia por construir uma história que realmente deixasse uma marca de encerramento, Spielberg e Lucas não evitaram alguns tropeços. A história é confusa ao explicar as diferenças entre as culturas Maia e Inca, o que pode causar desapontamento nos expectadores, principalmente aos mais ligados à história. Além disto, o final evidencia algumas situações já batidas no cinema.

O grande detalhe é que existe alguma semelhança entre o desfecho do quarto filme e do jogo Indiana Jones and the Fate of Atlantis, produzido pela LucasArts, empresa de George Lucas, em 1992, e que serviu como canalizador da vontade dos fãs em ver uma seqüência da série na época, já que foi produzido logo depois do terceiro filme. Aliás, durante toda a década de 90 se esperava um filme baseado na história do jogo. Não veio a saga da cidade perdida de Atlântida, mas chega a aventura na América do Sul, que também não desapontará os seguidores do chapéu e do chicote.


Jornada de um herói

Steven Spielberg e George Lucas inspiraram-se no modelo de roteiro baseado em arquétipos, teorizado pelo estudioso Joseph Campbell

Por Rodrigo Alves

Anacrônico ou não – uma parcela da crítica o tem considerado como tal –, o lançamento do Reino da Caveira de Cristal mantém o papel crucial do personagem de chapéu e chicote na construção do cinema hollywoodiano de entretenimento. Tudo começou quando George Lucas e Steven Spielberg, os pais deste tipo de cinema, conheceram as formulações do estudioso Joseph Campbell sobre a jornada típica de um herói.

A partir da década de 1970 quando começaram a produzir para os grandes estúdios, eles se tornaram célebres depois que passaram a aplicar o modelo para contar histórias na telona. Ele baseia-se em arquétipos como o mocinho, o traidor, a musa, o vilão, entre outros, que seguem um roteiro de uma jornada que vai de um chamado à aventura, passando pelos problemas e o clímax, até o desfecho que leva ao retorno à situação pacífica. Os próprios cineastas produziram diversos outros exemplos de obras que podem ser conferidas em filmes deles como as séries Star Wars (Lucas) ou Jurassic Park (Spielberg).

Desde os primódios - Considerado um dos mais importantes livros do século 20, O Herói de Mil Faces de Campbell, em que está contida a teorização desta jornada, trabalha com base nos arquétipos que seriam usados em histórias desde os primórdios da humanidade. Paralelamente às teorias de Carl Jung sobre esses arquétipos e o inconsciente coletivo, Campbell defende que todas as histórias estão ligadas por um fio condutor comum. Assim, segundo ele, desde mitos antigos, fábulas e contos de fadas até os atuais arrasa-quarteirões contariam, na verdade, a mesma história.

Esta linha comum dentro das narrativas é chamada por Campbell de “a jornada do herói Mitológico”, e tem servido de base e orientação para diversos profissionais, especialmente cineastas, escritores e até mesmo jornalistas. Para o estudioso, seria possível estruturar qualquer história a partir do roteiro básico da Jornada do Herói.

A saga Indiana Jones talvez seja a mais representativa desta jornada dentro da indústria cultural. Bem ou mal, impôs uma maneira de se fazer e se consumir cinema. O episódio mais marcante dentro deste modelo – e o melhor de todos, na opinião deste repórter – é o terceiro filme, Indiana Jones e a Última Cruzada. O novo Reino da Caveira de Cristal, mesmo atualizado, já que Indy vive situações pelas quais nunca passou e imaginou, mantém-se no esquema. Decisão certa.

Antes de assistir ao Reino da Caveira de Cristal, leia um resumo das histórias da trilogia anterior:

Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders Of The Lost Ark, 1981)

Em 1936, o arqueólogo Indiana Jones é contratado para encontrar a Arca da Aliança, que segundo as escrituras conteria Os Dez Mandamentos que Moisés trouxe do Monte Horeb. Mas como a lenda diz que o exército que a possuir será invencível, Indiana Jones terá um adversário de peso na busca pela arca perdida: o próprio Adolf Hitler e seu exercito nazista.


Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984)

No segundo filme, Indiana Jones tem que resgatar as pedras roubadas por um feiticeiro, para libertar crianças escravizadas na Índia. Nesta aventura o herói enfrenta os poderes mágicos e o fanatismo do culto de uma civilização bárbara que sacrifica seres humanos. Os companheiros de Indy são a vedete fútil e engraçada, Willie, e um esperto órfão chinês.


Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989)

O arqueólogo volta a enfrentar os nazistas para salvar seu pai e encontrar o Santo Graal, o cálice sagrado. O filme mostra a adolescência do herói e explica a adoção do chicote e o chapéu, além do medo de cobras. Outra revelação que vem, já na fase adulta, é que Indiana era o nome do cachorro. Seu verdadeiro nome é Henry Jones Jr. A presença do pai deixa o personagem mais humanizado, expondo suas inseguranças, mas também firma sua maturidade.

Serviço
Filme: Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull) - EUA, 2008. 124 min. Aventura
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Harrison Ford, Shia LaBeouf, Cate Blanchett, Karen Allen, John Hurt, Ray Winstone
Música: John Williams
Em cartaz em todo País
Site:
www.indianajones.com

Eduardo Sartorato é jornalista
Rodrigo Alves é jornalista e especialista em Jornalismo Literário

Fotos: Divulgação

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