quarta-feira, 28 de maio de 2008

 

Riqueza sem alma

Meu Nome é Vermelho, Prêmio Nobel de Literatura de 2006, prende atenção pelo mistério e descrições, mas perde em sensibilidade

Por Erika Lettry

Falar da obra de um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura é sempre uma tarefa, no mínimo, espinhosa. O título é impositivo e limitador de crítica. Sempre vale a pena, no entanto, analisar o que está aparentemente consolidado. Como é o caso do livro Meu Nome é Vermelho, do escritor turco Orhan Pamuk (foto).

O autor é uma celebridade literária em seu país, embora pouco conhecido por aqui. Para conhecer seu universo, Pamuk indica começar a leitura justamente com Meu Nome é Vermelho. O livro mostra o eterno embate entre Ocidente e Oriente e é rico em referências históricas, descrições de lendas e detalhes de pinturas. Mas tal como A Misteriosa Chama da Rainha Loana, de Umberto Eco, tanta riqueza intelectual não é capaz de compensar um texto sem alma e sensibilidade, como é o caso da obra de Pamuk.

Embora sua narrativa traga à luz a explicação para as profundas diferenças culturais entre as duas metadas do Planeta, falta empatia à escrita de Pamuk. Meu Nome é Vermelho mais lembra um livro didático que ganha a atenção do leitor como qualquer best-seller, com mistérios complicados e uma trama policial cheia de reviravoltas.

O leitor é apreendido logo no primeiro capítulo, quando um cadáver descreve como foi morto por seu algoz. A curiosidade, e apenas esta característica, empurra o leitor até a última página. Cada capítulo é contado por um narrador diferente. São 19 personagens que descrevem a história, entre eles um cachorro, a cor que dá nome ao livro, o assassino, a árvore, o dinheiro, o cavalo. É este recorte que une o enredo, o que com certeza é um dos maiores diferenciais do autor.

História - Em Meu Nome é Vermelho, às vésperas do primeiro milênio da Hégira, episódio fundador do Islamismo, no século 16, o sultão de Istambul resolve encomendar à sua escola de artistas uma edição única do Alcorão: um livro belíssimo ilustrado pelos melhores mestres miniaturistas. A obra, para despertar a admiração de um Doge da Veneza, precisa seguir os preceitos de uma nova arte que se desenvolvia na Europa: o renascentismo.

A empreitada ousada mostra-se arriscada, pois os seguidores da fé islâmica consideram uma afronta a representação da figura humana. O trabalho deve ser, então, executado secretamente, e um dos mestres ilustradores convoca, para ajudá-lo, seu sobrinho, chamado de "O Negro". A morte de um dos quatro miniaturistas responsáveis pela obra mostra o quão perigosa é a tarefa daqueles que foram incumbidos de terminar a obra do sultão.

Serviço
Livro
: Meu Nome é Vermelho
Autor: Orhan Pamuk
Editora: Companhia das Letras
Preço médio: R$ 63,50
Disponibilidade: fácil


Erika Lettry é jornalista e especialista em Jornalismo Cultural

2 comentários:

Helen Fernanda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helen Fernanda disse...

É ótimo chegar aqui quando está atualizado!!!

Vou anotar no meu GoodsReads para ler depois. Já devo ter uns vinte livros na fila de espera!

Mandei e-mail e sei que vocês vão responder.

Paz e bem!