quinta-feira, 26 de junho de 2008

 

Vínculos apaixonantes

Congo to Cuba, da Coleção Putumayo, mostra a saborosa mistura de ritmos proporcionada pela fusão musical entre Cuba e África

Por Erika Lettry

A exemplo da sonoridade brasileira, cheia de influências da África e de outros países, Cuba sempre trouxe em sua essência os ritmos daquele continente. Esta característica pode ser facilmente identificada no CD Congo to Cuba, que faz parte da coleção Putumayo World Music. O selo explora a multiplicidade cultural de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil.

Além do documentário Buena Vista Social Club, que ajudou a divulgar a música cubana nos quatro cantos do mundo, há uma riqueza impressionante de ritmos naquele país. Congo to Cuba é apenas uma amostra.

O disco apresenta uma seleção de músicos notáveis como Chico Alvarez, novaiorquino que ainda criança foi morar em Cuba e incorporou a musicalidade. Congo to Cuba abre com sua música sensual, Val´Carretero, que ele gravou para o selo SAR nos anos 80. Esta canção tem a participação na trombeta do famoso músico Chocolate Armenteiros. Chico Alvarez liderou vários grupos de músicas cubanas nos anos 70 e tinha um programa na emissora WBAI, em Nova York.

Mama Sissoko também representa a fusão Cuba-África no CD com a música Safiatou, inspirada na salsa. Mama Sissoko alcançou a fama quando tocava com o grupo Super Biton de Segou, uma das orquestras mais populares do Mali (país onde nasceu) nos anos 70 e 80.

O destaque do disco, contudo, é Gnonnas Pedro (foto), com a dançante Yiri Yiri Boum. Nascido em Beni, na África Ocidental, ele é considerado um representante legendário da salsa africana. Suas canções são bastante inspiradas nas cubanas e produziu muitos imitadores e apaixonados pelos continentes.

Claro que o disco também traz ritmos mais lentos, como Le Monde Est Fou, interpretada por Balla Tounkara. A música é uma versão de Hasta Siempre, uma homenagem a Che Guevarra, composta por Carlos Puebla. Congo to Cuba é um disco para se ouvir com atenção, estudar os ritmos e, claro, sair a bailar. Afinal, quem resiste à sensualidade desta união?

Congo to Cuba
1-Chico Alvarez. Val´Carretero (Cuba)
2-Mama Sissoko. Safiatou (Guinea)
3-Alfredo Valdés. Canto a La Vueltabajera (Cuba)
4-Gnonnas Pedro. Yiri Yiri Boum (Benin)
5-Tshala Muana. Lekela Muadi (Congo)
6-Balla Tounkara. Le Monde Est Fou (Mali)
7-Laba Sosseh. Son Soneate. (Gâmbia)
8-Monte Adentro. Igualita que Tu (Cuba)
9-Chocolate Armenteros. Ritomo de Mi Son (Cuba)
10-Mama Keita. Tougnato (Guinea)
11-Pape Fall. African Salsa (Senegal)


Serviço
CD: Congo To Cuba
Artista: Vários
Gravadora: Putumayo
Preço médio: R$ 36,90
Disponibilidade: média

Erika Lettry é jornalista e especialista em Jornalismo Cultural

domingo, 22 de junho de 2008

 

Um casamento, um drama

O filme A Noiva Síria ajuda a entender um dos diversos conflitos do Oriente Médio sob a ótica do sofrimento feminino

Por Rodrigo Alves

A certa altura de A Noiva Síria, o espectador se pergunta: “Por que tudo isso para um simples casamento?”. A falta de entendimento vem especialmente de quem não está inserido no contexto complexo que compõe a conflituosa geopolítica do Oriente Médio.

Neste mês, completaram-se 41 anos da Guerra dos Seis Dias, também conhecida como Guerra Árabe-Israelense de 1967. Nela Israel esteve em combate contra Egito, Síria e Jordânia. Ao final do conflito, o estado judeu capturou Jerusalém, hoje sua capital, o Monte do Templo, West Bank, Gaza e Colinas de Golam.

É neste último local que se passa o filme de Eran Riklis. Lá, além dos colonos israelenses, vivem 22 mil drusos, uma pequena comunidade religiosa autônoma que reside também no Líbano, Síria, Turquia, Jordânia e outras partes de Israel. Estima-se que juntos às comunidades expatriadas nos EUA, Canadá, América Latina, Austrália e Europa somem 1 milhão em todo mundo.

A noiva do título, Mona, é drusa. Seu povo fala árabe e segue modelo social semelhante ao árabe, apesar de não serem considerados muçulmanos pela maioria dos muçulmanos. Em uma definição precisa, eles são monoteístas com elementos islâmicos e cristão-judaicos e assumem a identidade do lugar onde vivem para serem aceitos.

Complicação – No filme, Mona vai se casar com um primo, também druso, que vive do lado Sírio. Ele não pode, conforme a determinação de Jerusalém, pisar nas Colinas de Golam. Eles só se conhecem por foto e assim que ela atravessar a fronteira perderá a identidade natal para nunca mais voltar a ver a família.

A complicação do casamento deve-se ao conflito sobre a região. Israel considera-a sua terra, anexada de guerra, enquanto a Síria, como seu território tomado à força. Hoje, oito anos após o tempo em que se desenvolve o filme (ano 2000), apesar notícias recentes de uma significativa possibilidade da devolução das terras aos sírios, a situação continua a mesma.

Com um jeito simples e tradicional de conduzir a trama, Riklis acentua o drama de Mona, resignação em pessoa, e sua irmã Amal, infeliz no casamento, que titubeia entre se libertar da opressão do marido e seguir as tradições drusas patriarcais. De maneira sensível, os menos acostumados à história do Oriente Médio são conduzidos, sob a ótica feminina, ao entendimento sobre a guerra entre povos que dividem a mesma terra.

Elenco afiado e bela trilha sonora só não fazem A Noiva Síria um filme perfeito porque Riklis esbarra no paradoxo que ele mesmo cria. Ao apresentar personagens e argumento ricos, cria expectativa para um filme maior, que não se realiza. O resultado, contudo, é satisfatório. Uma obra singela, aula humanizada de história sobre um impasse sem fim.

Serviço
Filme (DVD):
A Noiva Síria (The Syrian Bride) – Israel / França / Alemanha, 2004. 97 min. Drama.
Direção: Eran Riklis
Elenco: Hiam Abbass, Makram Khoury, Clara Khoury, Ashraf Barhom, Eyad Sheety, Evelyn Kaplun
Distribuidora: Europa Filmes
Preço médio: R$ 29,90
Site:
www.syrianbride.com

Rodrigo Alves é jornalista e especialista em Jornalismo Literário

sexta-feira, 20 de junho de 2008

 

A última lição... de vida

O professor americano de ciência da computação Randy Pausch dá um testemunho literário sobre a gratidão por viver

Por Lorena Verli

A vida é um caminho cheio de lições. Talvez a mais difícil de aprender seja dar o seu melhor, sempre, independentemente do que vai receber em troca. Fazer isso é um exercício diário de alma e mente que poucas pessoas conseguem colocar em prática. Mas há momentos em que algo lhe puxa de volta para esse espírito. É o que acontece quando lemos algo como A Lição Final, de Randy Pausch (foto).

Para quem está por fora do assunto, Randy está com câncer terminal. Há poucos meses, enquanto eu recebia a notícia de que seria contratada, ele pegava o diagnóstico de uma metástase. Ainda assim, ele decidiu aceitar o convite para dar sua “aula final” (nos Estados Unidos é comum um professor ser convidado a dar uma aula como se esta fosse sua última da sua vida). Aquela realmente era a última aula de Pausch.

Qual era o seu objetivo com isso? Deixar um legado. “Se fosse um pintor, pintaria um quadro. Se fosse músico, comporia uma música. Como sou professor, decidi dar uma aula”. Seu único intento era que sua mensagem chegasse para as três crianças que vão perder o pai. Por isso, sua palestra não falou sobre a morte e, sim, sobre a vida. Sobre como realizar os seus sonhos de infância.

O livro nasceu dessa palestra. É um testamento do que ele espera de seus filhos: que eles sejam felizes e saibam que, mesmo diante da morte, ele esboçava um sorriso de gratidão para com a vida. Pausch não pode mudar o seu destino. Apenas joga com as cartas que tem. Mas dá o seu melhor nesse jogo. E deixa essa lição para muitos.

Atualização em 28/07/2008:
O professor Randy Pausch morreu no dia 25 de julho de 2008, de câncer, nos Estados Unidos. Ele havia descoberto que tinha a doença no pâncreas em 2007.

Serviço
Livro: A Lição Final
Autor: Randy Pausch
Editora: Ediouro
Preço médio: R$ 34,90
Disponibilidade: fácil

Lorena Verli é jornalista e especialista em Jornalismo Literário

terça-feira, 10 de junho de 2008

 

Quarteto da moda

Filme revive as histórias das quatro amigas de Nova York que influenciaram a nova geração de mulheres modernas

Por Erika Lettry

O quarteto composto por Carrie (Sarah Jessica Parker), Samantha (Kim Cattrall), Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis) mostram em Sex and the City – O Filme (foto) que continua na moda, mesmo após quatro anos do fim da série americana. E como continua! Líder de bilheteria na semana passada, a primeira de exibição nos Estados Unidos, o longa despretensioso diverte e mata as saudades das amigas de Nova York que adoram falar de roupas, sexo e relacionamentos.

Apesar do figurino elaborado por Patrícia Fields ser, mais uma vez, o assunto mais comentado, o filme acerta ao retomar valores importantes disseminados na série. A busca incessante pelo amor e felicidade, a importância da amizade, a dedicação à carreira são alguns dos assuntos abordados em duas horas e meia de duração. Tudo com a pitada certa de sensibilidade e humor.

A direção conseguiu resumir a história de cada uma da trupe logo no início. Até quem nunca assistiu à série consegue acompanhar a seqüência. E rir de algumas situações, por que não? Como resistir ao humor escrachado da liberal Samantha? E às trapalhadas da conservadora Charlotte? O filme comprova o porquê do sucesso da série, que durou seis temporadas, e a necessidade de levá-la às telonas. Com certeza muitas mulheres tinham curiosidade em saber o destino destas revolucionárias. E, claro, aguardavam o tão sonhado final feliz.

Serviço
Filme: Sex and the City - O Filme - EUA, 2008. 148 min. Comédia
Direção: Michael Patrick King
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattral, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, Jennifer Hudson
Roteiro: Michael Patrick King, baseado em personagens do livro de Candace Bushnell
Música: Aaron Zigman
Em cartaz em todo o País
Site oficial:
www.sexandthecitymovie.com