sábado, 3 de novembro de 2007

 

Sertanejo puro, country ou pop-romântico?

Quatro músicos do mundo sertanejo – Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Marrequinho e Chico Lobo – discutem novos rumos do gênero

Por Erika Lettry

O sertanejo é um gênero com diversas ramificações ou deturpações? Até que ponto são válidas as influências estrangeiras neste estilo musical? O que separa música caipira, sertaneja e romântica? Estas perguntas são mais complexas do que parecem e abarcam, como em toda polêmica, opiniões divergentes. O Plural Blog pediu que quatro músicos ligados ao gênero (ou que já foram ligados) discutissem o assunto.

No debate constata-se que a globalização é um fato, mas ainda há resistência quanto a abrir mão de maneiras tradicionais em favor de costumes importados. Isto é especialmente explícito no universo da música sertaneja. A discussão sobre a pureza do estilo já correu mundo e criou celeumas no meio musical, sem previsão de acordo.

Enquanto alguns são veementemente contrários às influências externas, outros as enxergam como necessárias na evolução do gênero. Na primeira corrente encontra-se Rolando Boldrin (foto acima). O artista foi um dos primeiros a dedicar programas de televisão à música brasileira de inspiração regional e possui um vasto repertório de canções caipiras que reúne cateretês, toadas e modas. "Qualquer influência estrangeira na nossa música eu pessoalmente não gosto", avisa o compositor, em entrevista ao blog.

Além disso, ele critica o fato de temas rurais terem cedido espaço às músicas que falam sobre a cidade e que entoam brincadeiras de duplo sentido. "Uma mudança triste de rótulo que descaracteriza nossa música pura", lamenta. Por isso, ele prefere dividir o gênero em três outros estilos. "É erroneamente chamada de música sertaneja um produto fonográfico de alto consumo, onde aparecem duplas de cantores românticos. Na verdade, música sertaneja é música nordestina. Já a música caipira é aquela cantada em dueto com temas simples, sem apelação, coisa quase extinta", dispara Boldrin.

Ao contrário dele, o músico Renato Teixeira (foto ao lado) vê como positiva a influência externa na evolução da música sertaneja. Mas também prefere classificar esta evolução de forma diferente, decretando inclusive que a música caipira já não existe mais. "Foi o que fizeram Tonico e Tinoco há muitos anos, por exemplo. Depois disso houve uma dissidência que culminou no sertanejo, que é algo que o Almir Sater e eu fazíamos há alguns anos. Eu particularmente já abandonei isso e faço folk-brasileiro", esclarece.

Adaptação - Renato explica que houve realmente uma antropofagia, ou seja, os músicos adotaram o estilo country importado dos Estados Unidos, porém adaptaram o que vinha de lá à realidade brasileira. "Num mundo globalizado a gente não tem que se preocupar com influências. Elas fazem parte. Temos que usar o que serve para gente. O sertanejo-country é uma adaptação", diz. Ele elogia o trabalho de duplas que trabalham neste sentido, como Zezé di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó. "São músicos expressivos que vieram para ficar. Pode-se até não gostar deles, mas é ignorância negar suas qualidades. Eles não são artistas banais: vieram para ficar", afirma.

Na mesma linha de Teixeira, o compositor goiano Marrequinho não reclama da influência estrangeira na música sertaneja. Ao contrário, ele alerta que muito antes da música country, o sertanejo já havia sido influenciado por canções mexicanas e paraguaias. "No início a música sertaneja era autenticamente brasileira. Saía das roças e da mesma maneira era executada nas rádios. Depois foi chegando às cidades e algumas pessoas começaram a explorar a analogia entre as músicas mexicanas e paraguaias com a sertaneja", descreve.

A influência country, na opinião do compositor, é relativamente recente e está mais ligada às questões de montagem e instrumentalidade do que à música propriamente dita. Ele encara como positiva essa evolução ao longo dos anos. "O sertanejo era muito limitado, os ritmos eram pobres. Com as influências ele foi se desenvolvendo e só chegou aonde chegou por causa disto", avalia. Contudo, ele faz ressalvas quanto aos dias de hoje. "A música sertaneja quase que se desligou de sua origem. Virou MPB em dueto. Não digo isso como uma crítica, mas uma análise", afirma.

Aculturação - Para o músico mineiro Chico Lobo (foto ao lado) a questão principal da discussão está relacionada às definições. Ele acredita que a partir do momento em que a música sertaneja passou a sofrer influências externas, deixou de poder carregar este nome. "O que me incomoda não é a música sertaneja atual, mas o fato de muitos cantores terem se apropriado do termo. Quando o country começa a imperar e as músicas daqui deixam de falar de suas origens, entra-se num processo de aculturação", critica.

Por isso, hoje ele também se refere à música sertaneja de raiz como música caipira, embora o faça a contragosto. "A única coisa que este pop romântico que chamam de sertanejo guardou foi a tradição de se cantar em dupla", alfineta. Segundo ele, a música de raiz deve estar essencialmente ligada ao povo. E isso quer dizer que não pode evoluir? "Claro que pode. A música caipira não é peça de museu, ela é sempre dinâmica, aberta a novas leituras. Mas estas devem partir de dentro, não de influências externas", defende.
Erika Lettry é jornalista e especialista em Jornalismo Cultural

Fotos: Rolando Boldrin em acervo da TV Cultura; Renato Teixeira por Marcelo Rossi; Chico Lobo em acervo pessoal

3 comentários:

Rainer Sousa disse...

O Rolando Boldrin é um folclorista teimoso. Certa vez, barrou o Sérgio Reis com seu chapelão de cowboy, mas morria de amores pelo Tião Carreiro, que usava a mesa pecinha (e era a cara do Sinhozinho Mata).

Tô certo ou tô errado?!?!

Rainer Sousa disse...

MaLta !

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.