segunda-feira, 22 de outubro de 2007

 

Coisas de casal

Adriana Esteves e Marcos Palmeira estrelam peça no Rio de Janeiro sobre o casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita

Por Carlos Eduardo Melo

Estreou quinta-feira, dia 18, no teatro de arena do Sesc Copacabana, a peça Virgolino Ferreira e Maria de Déa – Auto de Angicos, texto de Marcos Barbosa, direção de Amir Haddad, com Adriana Esteves e Marcos Palmeira (foto).

A premissa, convenhamos, não é das mais originais. Os personagens focalizados, também não. O mais interessante, pretensamente pelo menos, talvez seja a reunião desses dois temas fáceis, com o objetivo de criar uma visão algo diferente de uma história já bastante conhecida.

Casal de cangaceiros discute relação num acampamento no meio do sertão. Que tal? Eles são Virgolino Ferreira, o Lampião, e sua mulher, a Maria Bonita. Os dois, acometidos por uma compreensiva insônia, considerando a rotina exasperante que vivem, perseguidos pelos “macacos” da polícia, tiram a última hora de suas vidas para uma discussão das mais monótonas.

Poderia ser um “já falei mil vezes para não apertar o tubo da pasta de dente pelo meio...” ou “não dava para pendurar a toalha molhada, em vez de deixá-la enrolada em cima da cama?”, ou ainda “por que você sempre deixa suas calcinhas no box?” tivessem, lógico, Lampião e sua senhora o saudável hábito de escovar os dentes e tomar banho.

Mas não, o assunto dos dois, que preenche quase noventa minutos de espetáculo, ora evoca o passado (por que você fez aquilo?), ora vislumbra o futuro (a gente vai embora pra bem longe...), ora mostra a conhecida vaidade do líder dos cangaceiros, ora acentua a determinação da primeira-dama do cangaço. Nada muito original.

Imaginar os astros Marcos Palmeira e Adriana Esteves, bons atores indiscutivelmente, nas pessoas do casal de cangaceiros não é o mais difícil, embora a platéia (povoada de famosos, na estréia) tenha encontrado momentos para rir quando a discussão deveria ser séria – isso muito pelo modo um tanto histérico de algumas falas de Adriana, que lembram alguns personagens que interpretou ou interpreta na TV.

O pior mesmo é encarar um recorrente problema que se repete com lamentável freqüência em tantas produções, seja no cinema ou no teatro, e não só no Brasil. Trata-se do terrível fantasma dos quinze minutos a mais. Quer dizer, tivesse no mínimo quinze minutos a menos (a peça, não a vida do casal, por favor), não se perceberia com tanta nitidez a sensação de tempo desperdiçado, apesar do carisma dos atores.

Serviço
Peça: Virgolino Ferreira e Maria de Déa – Auto de Angicos
Data: De quinta a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19h30
Local: Espaço Sesc – Rua Domingos Ferreira, nº 160, Copabacana
Ingresso: R$ 3 (comerciários) e R$ 12 (comunidade geral)
Informações no Rio de Janeiro: (21) 2548-1088

Carlos Eduardo Melo é jornalista e especialista em Jornalismo Cultural

Foto: Divulgação

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